segunda-feira, 21 de junho de 2010

“Da casa ao planeta
Do Rosa à primavera
Da grande família humana
Do sertão à noosfera.” (PRK)

Inspirada na obra de Guimarães Rosa, a quadrinha acima, ao associar o local e o global, o regional e o universal, o popular e o erudito, pretende traduzir propósitos e esforços em curso na comunidade de agricultores familiares de Sagarana, no sertão urucuiano, em Minas Gerais. Ali, articulando-se cultura, solidariedade, sustentabilidade e reunindo-se parceiros diversos, se constrói um processo de aplicação da herança roseana para a promoção do desenvolvimento sustentável da bacia hidrográfica do Rio Urucuia.

Orientados pelas noções de sustentabilidade e de interdependência de todas as coisas e seres, apostamos no valor da solidariedade e da cooperação para transformar percepções, atitudes, condutas e estimular a religação fraterna da humanidade com a biosfera e o planeta – nossa casa comum. Por tais veredas nos inserimos num movimento mais amplo de mudança de paradigma e de modelo de civilização.

Convidamos todos a adotarem, a exemplo do Rosa, um olhar generoso e inclusivo - uma mirada transdisciplinar, que perceba a realidade grávida de possibilidades e proporcione o engajamento de mentes e corações rumo à alteridade e à hospitalidade de um mundo pacífico, solidário, sustentável, justo e feliz.

Assim chegamos aos conceitos centrais da nossa quadrinha: Sertão e Noosfera.

Sertão (*): O sertão roseano – para além da ambiência geográfica – é um convite à poética da imensidão, do enraizamento, da profundidade e da intensidade. É humildade e reverência ante o mistério das dimensões físicas e metafísicas da realidade. O sertão que “é o mundo” e que “está dentro da gente”, evoca a complexidade abissal da existência humana, seus sonhos e utopias e suas incertezas, angústias e dúvidas. O sertão universo da eternidade e da solidão, com seus mitos, ilogicidades, fantasias, fantasmas e racionalizações – é consciência do caos em travessia para um cosmos. O sertão da desmedida e incomensurável alma humana ante a imanência e a transcendência. O sertão-realidade que resiste ao conhecimento revelando só algumas veredas, veredazinhas. Sertão que aposta na terceira margem da vida: a alegria pessoal, coletiva, plural e, assim, aponta para a noosfera.

Noosfera – Atribuído ao filósofo francês Teilhard de Chardin, o conceito de “noosfera” é explicado por Leonardo Boff (**): “outrora, a partir da geosfera surgiu a litosfera (rochas), depois a hidrosfera (água), em seguida a atmosfera (ar), posteriormente a biosfera (vida) e por fim a antroposfera (ser humano). Agora, a história madurou para uma etapa mais avançada do processo evolucionário, a da noosfera. Noosfera, como a palavra diz (nous em grego significa mente e inteligência) expressa a convergência de mentes e corações, originando uma unidade mais alta e mais complexa. É o começo de uma nova história, a história da Terra unida com a Humanidade (expressão consciente e inteligente da Terra), o encontro de todos os povos num único lugar, vale dizer, no planeta Terra e com a consciência planetária comum. Talvez a noosfera seja, agora, somente uma chama tremulante. Mas ela representa o que deve ser. E o que deve ser tem força. Tende a se realizar.”

Venha, traga a sua alegria para regar nosso sertão!

(*) O conceito de sertão foi ampliado a partir da visão de Aglaêda Facó, autora de Guimarães Rosa: do Ícone ao Símbolo, José Olimpio Editora, 1991.

(**) Leonardo Boff , teólogo franciscano, é autor de mais de 70 livros, dentre os quais Hospitalidade: Direito e Dever de Todos e Ecologia, Mundialização, Espiritualidade. foi agraciado com o Prêmio Nobel alternativo da paz.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sagarana no Overmundo


Confira no link a seguir o release de Sagarana no site Overmundo.

http://www.overmundo.com.br/overblog/3-encontro-de-parceiros-do-vale-do-urucuia


Sagarana recebe o 3º encontro de parceiros do Vale do Urucuia

Sagarana, distrito de Arinos, receberá, entre os dias 25 e 27 de junho, o 3º Encontro de Parceiros do Vale Rio Urucuia e Carinhanha com o tema “Sagarana: feito Rosa para o sertão”. O evento movimentará a região Noroeste de Minas com inúmeras atividades culturais, educativas e artísticas.

Desenvolvimento regional sustentável e solidário na região do Vale do Urucuia, atividades culturais e apresentação dos andamentos e resultados de projetos executados e em execução no Vale do Rio estarão na pauta do evento.

Idealizado para comemorar o centenário de Guimarães Rosa, “Sagarana: feito Rosa para o sertão” discute a busca das comunidades pelo desenvolvimento sustentável, com propostas alternativas de inclusão sociocultural e ambiental de maneira coletiva.

Durante o evento será inaugurado em Sagarana o Centro de Referência de Tecnologias Sociais do Sertão. O espaço tem como objetivo proporcionar às lideranças sociais e outros interessados a multiplicação de conhecimentos sobre os métodos, processos e sistemas que envolvem as tecnologias sociais, de baixo custo de execução, que geram trabalho e renda e podem sanar inúmeros problemas das comunidades.

Essas tecnologias sociais são adaptadas à realidade das comunidades do Vale do Urucuia, buscando elevar o potencial econômico e social da região, sempre com foco no desenvolvimento regional sustentável e na preservação ambiental.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sagarana: o que será? (por Nísio Miranda)


Sagarana não é uma lenda. Muito menos, unicamente, um livro de contos do genial Guimarães Rosa.



Entre um extremo e outro – da mística da palavra; do sertão iniciático e da travessia cotidiana e abrupta, não-dimensionável, íntimo e infinito em cada ser individualizado e múltiplo, à materialização, em prosa irrepreensível do mago tradutor do sertão - a utopia refloresce, insurgindo-se contra a dureza dos dias urbanos, contra a irresignada insatisfação humana traduzida em consumo, em individualismo, em alheamento, em alienação, em estagnação dos sentimentos, em previsível morte multi-aspectual.

Sagarana é, assim, intraduzível. Inobstante isso, localizável – pelo menos geograficamente. Distrito de Arinos, Noroeste das Gerais (como se o sertão não só se permitisse mensurar espiritualmente).


O que não raramente se conclui é que Sagarana tem que ser vivida. Vivenciada. Experimentada e sorvida como algo com que nunca nos deliciamos, seja pela raridade e escassez, seja pela inacessibilidade a que os segredos e os rituais submetem os objetos de desejo, profanos ou sagrados, ao homem que, ao viajar, não se atém à paisagem, não se fluidifica em intersecção com as almas passantes, impregnadas de chão, de inimagináveis venturas e desventuras, transformadas em faces enrugadas e olhos sábios, sorrisos tímidos, mas radiantes de sentimento e esperança.


Sagarana está ali: entre um tanto e outro de sertão banhado pelo contemplativo Urucuia, como um óvulo à espera da fecundação, como animal hibernante na expectativa de outra primavera, como um botão prestes a romper em enigmática flor.

Eis que, ao caminhar, avista-se no horizonte a utopia que, no dizer do poeta, afasta-se a cada passo dado, compelindo-nos à frente. A utopia que provoca os visionários, remetendo-os da intenção ao gesto, da inércia da reflexão ao ato profícuo da recriaçãodo mundo. Pois que “o sertão é o mundo”.


E dali, de modo profético, surgirá, tanto mais o tempo se adiante, para além de vãs promessas – meras indutoras de esperanças, multiplicadoras de sonhos – uma verdadeira incubadora do que de mais carece a nossa gente, do que mais merece a nossa terra, na parceria salutar de gestores públicos, ativistas sociais, culturais, ambientais e lideranças populares, em busca de soluções simples, mas ricas em mobilização social, em reconstrução da cidadania, em desenvolvimento sustentável.


Na generosa acolhida da gente que ali vive, os que ali se encontram, anualmente, constroem os pilares de uma colmeia tecnológica, com uma visão humanista e universalista, que terá operários e operárias em número e qualidade suficientes para polinizar a trajetória da viçosa e fértil Sagarana: feito Rosa para o Sertão.





terça-feira, 8 de junho de 2010

Confira as fotos da festa de Sagarana em 2009


Clique na foto ou no link a seguir para visualizar as fotos da festa de Sagarana em 2009.

http://www.flickr.com/photos/sagarana